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Dia da Restauração

domingo, 30 de novembro de 2008


1 de Dezembro de 1640 golpe palaciano que pôs fim a 60 anos de governo filipino em Portugal e colocou no trono o duque de Bragança D. João IV.


[...A cerimónia oficial para a aclamação do monarca foi marcada para o dia 15. Tudo se faria sem grandes festas, como D. João havia exigido. Para o efeito, ergueu-se um palanque no Terreiro do Paço...] [...De repente, toda a gente explodiu em vivas de alegria e entusiasmo. Fernão Teles de Menezes esperou que as vozes se calassem, desfraldou a bandeira das quinas e agitou-a, gritando, entusiasmado: Real! Real! Real! Pelo muito alto e poderoso rei D. João IV nosso senhor! - Viva!] [...Finalmente, Portugal libertara-se do jugo que o estrangulava e conquistara a tão merecida independência e liberdade. Extraído do livro de Isabel Ricardo "O Último Conjurado".

Maria

sexta-feira, 28 de novembro de 2008



Amava a minha mãe. Até de mais. Podia até definir esse relacionamento como o grande amor da minha vida.
Admirava a sua altivez e sabedoria, além da sua serenidade e paciência para aturar todo o tipo de pessoas. Nunca lhe perdoei o facto de ter aturado com a mesma benevolência a besta do meu pai. A nossa diferença de idades era apenas de 18 anos. Seguia-me para todo o lado, controlando todos os meus passos. Cumpria escrupulosamente todas as suas determinações e os avisados conselhos. Ela foi a responsável por me encontrar ainda hoje no estado de celibatário apesar dos meus 48 anos. Quando se aproximava de mim, sentia o cheiro da sua aveludada pele, fazendo lembrar quando ainda bebé me afagava no seu regaço. Sentia-me confortável e realizado ao pé dela. Por isso nunca me aproximei e interessei por outras mulheres. Os anos foram passando e um dia senti repulsa. Senti que tinha de a matar. Ao cumprir tal hediondo acto, confesso que chorei.

Histórias do Absurdo

segunda-feira, 24 de novembro de 2008



Intrigado pelo desaparecimento de uma foto de Madalena Iglésias aqui no Luz itânia, inserido para melhor ficar na moldura, no post com o título Carta de Madalena Iglésias a Luís Vaz de Camões, reflecti seriamente a quem é que o referido retrato desmerecia para tal acto sensório. Depois de algumas horas absorto sobre este episódio, não cheguei a nenhuma conclusão decente. O caso é aborrecido para mim, porque acreditem, sempre gostei da Madalena Iglésias. Tenho os discos todos dela, quer os LPs, quer os EPs. Vi os filmes todos dela, principalmente com o António Calvário. Das polémicas que houve em torno das rivalidades entre os fãs de Madalena Iglésias e Simone de Oliveira eu sempre estive ao lado dela. Sei cantar ainda hoje os seus grandes êxitos. Por isso, não fazia sentido serei eu próprio a retirar a foto. Quem teria sido os autores deste absurdo? Pressões da própria!? Bom, não importa!


Matei o meu Pai


Sentei-me por uns instantes muito breves, no cemitério a observar o céu azul. Pairava uma brisa muito leve no ar que fazia oscilar os ciprestes. Tinha ali sepultada naquele enorme jardim de pedra toda a minha família. Apenas não chorava a morte do meu pai.
Tinha um ódio visceral ao meu pai. Sempre me contrariou nas minhas aspirações até as mais ingénuas e infantis. No entanto, sabia das suas preocupações quanto ao meu futuro. Um futuro delineado por ele evidentemente. Desde tenra idade que a sua figura me inspirava uma mistura de ódio e compaixão. Discutimos muito quando eu fiz 62 anos. Foi como fazer a catarse das nossas vidas. Mas, sobretudo matei-o porque detestava as suas botas pretas que sempre usou toda a sua vida. Enterrei-o ainda vivo. Julgo que ainda anda por aí.

Stop!

terça-feira, 18 de novembro de 2008


Pegando no mote do último post da menina das Résteas que eu considero muito oportuno, dignei-me fazer este para muita gente desprevenida, não certamente por terem perdido a sensibilidade bastante, para julgar as coisas que vão acontecendo connosco no quotidiano, mas por uma imensa cortina de fumo que desde há muito tempo a esta parte não nos deixa ver mais claro.

O que nós precisamos é de parar para reflectir e como diz o referido post, é necessário sermos novamente crianças. Para termos o poder de sonhar. De sermos românticos, não no sentido único do amor, mas românticos em tudo. No acreditar que é possível reinventar tudo de novo. Utilizarmos o tempo mais para nós. Uma maneira diferente de estar com os amigos, restituir à família a importância que desmereceu. Reinventar o amor e a amizade. Voltar a respeitar os valores essenciais que fez escola na sociedade e que foram os alicerces do equilíbrio do ser humano. A não ser assim, continuaremos a estar agrilhoados pelo tempo e pelo trabalho e teremos a desilusão, o desespero e a tristeza, que é o apanágio dos nossos dias.

Depois das utopias políticas geradoras de frustrações, bem visíveis, paremos para reflectir.


Carta de Madalena Iglésias a Luís Vaz de Camões

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Fardado ou não, és e sempre foste um bonito rapaz. Um pouco timido até. Mas isso às vezes até convinha, porque nestas coisas do amor é costume a paixão sobrepor-se à razão. Um homem não é uma mosca e nem é de ferro. Dizem as estatísticas que 10% dos suicídios anualmente são originários de desgostos de amor e não de qualquer febre gripal apanhada nas épocas mais frias, nas restantes ainda se está para saber. Um homem rebaixa-se até a esse ponto. O Luís até foi um deles. Passava os dias com os seus delírios junto ao cais à tardinha. Convivia com a fauna que descia a Bica. Vadios, bêbados, fadistas, chulos e as meninas de mau porte, enquanto as gaivotas aterravam ali perto, enviando-lhe mensagens ocultas que o ajudavam a prever o futuro. Fugiste a sete pés pela Rua do Alecrim e com as calças na mão depois de uma noite de orgíaca descompostura, perseguido por uma onda de maridos enganados. Mas nesta era de crise e de horrores, de tédios tamanhos, quem te considerou um "chato" foi o Alberto Cossery e os amantes da sua indolência, que passam o tempo a corar ao sol neste Vale Fértil. Já há muito que desterraram o Luís por o acharem deprimente e que do estudo a isso são obrigados, numa tentativa assaz anti-pedagógica de desviar as atenções para a arte de pintar paredes, estar in nas noites de boémia do Bairro Alto e de apreciar a cultura e os deslumbres da poesia hip-hop. Por isso, há que atirar para a fogueira das iniquidades os teus cantos, porque o que está a dar são as licenciaturas para a cidadania de futuros bijagós. Sabes quem está muito na moda? É o José Saramago. Não há bicho-careto que não o cite e lhe faça o retrato. Mas ainda assim não aparece tatuado. Não foi o Cesariny que disse, "o génio é incompatível com a habilidade". Vamos por isso acreditar nos génios. Mesmo que um dia também morram. Também eu agora não estou interessada em ser tua musa. Fartei-me de ser a tuba para os mais carentes em versão canora e belicosa, como dizias. Mas isso era no tempo do vinil.

Divina Comédia

segunda-feira, 10 de novembro de 2008


- Achas que vivemos numa democracia?
- Não, pá!
- Então?
- O que nós vivemos é numa partidocracia
- Então não existem regras democráticas?
- Existem mas não são cumpridas
- Então, e o povo?
- Consome e consome-se para sustentar a banca

Os ricos renunciaram a um mundo de decência, David Riesman

Folhas de Outono

segunda-feira, 3 de novembro de 2008



Depois dos anos quentes de 74 e 75, a que se seguiu o optimismo e a idolatria do dinheiro, o prestígio individual, a exaltação dos valores relativistas, do prazer e dos direitos a todo o custo, segue-se a crise e a desorientação social. E agora em pleno Outono, depois das sensualidades de verão, com a chegada do frio e as caminhadas para a farmácia, toda a gente entra e fala na crise. Mas, estamos a falar de que tipo de crise? Crises há muitas e a nossa comunicação social que gosta, vive e convive bem com os acontecimentos exaltantes deste sítio à beira.mar, diz que se trata de uma grave crise financeira. Outros mais afoitos dizem, porque convêm dizer às suas clientelas partidárias que se trata, finalmente, no inicio do fim do capitalismo na sua vertente liberal, vulgo liberalismo. Acredito que sim. Mas a questão não tem só a ver com a ostentação e o esbanjamento de dinheiros e com a avidez pessoal de alguns administradores e gestores de bancos e empresas e com os sonhos sempre presentes das pessoas. Mas sim numa crise de valores que se arrasta há décadas.