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Associativismo

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Há dias numa conversa com um amigo que conheci numa colectividade que outrora já conheceu melhores dias, falava-se na dificuldade de se encontrar pessoas válidas - não só pessoas válidas -mas pessoas, para fazer parte de uma direcção de qualquer colectividade, mesmo num concelho como o de Almada, outrora um baluarte do associativismo. Sabes, disse-lhe eu, as pessoas fugiram todas para a política. E nessa fuga a par das pessoas válidas, foram muita gente, sem qualquer preparação uns, e por oportunismo e carreirismo outros, que aproveitando o comboio do poder local democrático, se instalaram a coberto dos partidos políticos. Não admira, por isso, as histórias das Fátimas Felgueiras, dos Valentins Loureiros, dos Avelinos Ferreiras Torres e de muitos outros desconhecidos que ocupam neste momento as cadeiras de certos pelouros das diversas autarquias. A minha argumentação parece que não surpreendeu o meu amigo e parece que não surpreende ninguém.

Lisboa

quinta-feira, 14 de junho de 2007


Esta é a minha cidade. A cidade da minha infância, sempre cheia de luz, dos pregões matinais, dos ardinas, das vendedeiras de frutas e legumes que percorriam a cidade, dos páteos e quintalinhos e das ruas estreitas.

Nasci em Alcântara, na rua Maria Pia, precisamente nesses pedaços quadrados onde habitavam várias famílias, que se conheciam e se ajudavam na labuta diária naqueles dias cinzentos. Por esta altura das festas dos santos populares, esquecia-se as tristezas e dificuldades da vida, e com o páteo colorido de bandeirinhas e balões, saltava-se à fogueira, enquanto a miudagem pedia um tostãozinho pró S. António.

No Largo Prior do Crato, meu avô tinha um quiosque onde vendia tabacos, jornais e revistas e onde eu passava grandes momentos de magia a observar os eléctricos antigos, abertos nas laterais e de bancos de madeira apinhados de gente e o comboio de mercadorias proveniente do cais de Alcântara. Íamos almoçar numa taberna que dava ligação à Garagem Modelo, que ainda hoje existe, mas sem a algazarra dos operários que vinham das fábricas e das docas ali tomar a sua refeição.

Em frente está o rio. O tal Tejo que falam os cronistas, onde chegam e partem navios de transporte de mercadorias e de passageiros. E onde deslizava nas suas águas fragatas de vela ao vento com as gaivotas cruzando o céu de Lisboa.

[...]Mas já não há céu, céu e rio desapareceram por trás duma cortina de asas em desordem. E num momento assim, ternamente, confiadamente, qualquer amante de Lisboa se sente ainda mais ancorado à cidade que o está a ver partir. José Cardoso Pires.

Já não é esta a minha cidade nos tempos que correm. Passaram alguns anos, a cidade estendeu-se, com a chegada de imigrantes, e do regresso dos portugueses de África, o tecido social e os costumes alteraram-se profundamente. Eu diria que dramáticamente.

Num filme que recentemente foi exibido na RTP, precisamente com o título "Lisboetas", na cena final deste documentário, algures numa clínica, um casal de imigrantes russos esperam o nascimento do primeiro filho. Após o nascimento por indicação dos pais, a menina vai chamar-se Alexandra. Que poderia chamar-se Luísa ou Fátima! Luísa ou Fátima Kopriskaya. A seguir, o filme-documentário terminava apenas com a palavra FIM. Significativo.

Mas eu continuo a amar Lisboa, as suas ruas com os seus típicos empedrados, e as suas calçadas, os monumentos, os jardins, mas principalmente a sua luz e ainda mais o Tejo.