O futebol faz parte integrante da cultura de um povo. O português gosta particularmente do futebol e vive apaixonadamente tudo que se relaciona com ele, sobretudo quando está em jogo a selecção nacional. A questão, no entanto, não é para mim muito pacifica, embora goste também de assistir a uma boa partida de futebol. Não é pacifica, porque o futebol ao mais alto nível, perdeu a sua ingenuidade inicial, para se tornar presa fácil de uma concepção economicista do desporto, assente na lógica de investidores e empresários. Entretanto, o fan do futebol, aquele que o vive diariamente, continua agarrado à sua paixão, sem que se aperceba que faz parte integrante de um sistema globalizante de interesses, que tudo condiciona ultrapassando os nacionalismos e clubismos existentes, sem contudo, tirar qualquer proveito. A não ser ajudar a sua auto-estima, qual catarse colectiva.
Toda a gente ficou espantada com a decisão do seleccionador nacional, L.F. Scolari ter anunciado a sua saída da selecção das quinas para em breve cumprir um contrato super milionáro no clube inglês do Chelsea. Tudo isto numa fase crucial do europeu em que a selecção é parte interessada. Por isso, foi muito criticado o timing do anúncio daquela decisão. Mais interessante, é que segundo se sabe agora, no hotel da selecção passearam agentes nos corredores à procura de negociatas. Os alvos preferenciais são as figuras mais mediáticas do planeta do futebol e da selecção nacional e sobretudo a sua principal vedeta, o famoso nº. 7 C. Ronaldo.
Scolari faz bem em tratar da sua vidinha, mas o seu apelo à defesa dos seus atletas e aos interesses da selecção e ao seu "patriotismo" nunca me enganaram.
Scolari foi muito inteligente ao explorar as idiossincrasias do povo português e o contexto em que vivia na altura a selecção nacional. Encenou uma farsa - o caso das bandeirinhas nas janelas e o apego a Portugal - mas para seu proveito próprio. O que ganhou em termos desportivos? Nada. E desconfio que nada mais vai ganhar. E desculpem os meus visitantes da Luz itania pouco versados nestas coisas da ciência do futebol, o Felipão é um zero em termos tácticos, mas sim muito forte apenas no aspecto psicológico. Foi aqui que ele ganhou e enganou os mais incautos.
Não se enganem, esta gente anda toda a tratar da sua vidinha, desculpando-se com a alegria do povo e desta industria que faz movimentar milhões.