A cidade de Luanda fervilhava a um ritmo intenso onde nós militares forneciam uma dose de movimento, juventude e alegria.
Quando cheguei impressionou-me a terra numa tonalidade avermelhadada e quente num Abril igualmente com um sol radioso. Depois de uns dias no Campo Militar do Grafanil, enfrentrei pela primeira vez a cidade. Havia a necessidade de trocar os meus escudos que trazia da Metrópole por angolares numa terra que se dizia que era nossa. Não percebi. Esse change era realizado mesmo ali na rua junto a um café com bilhares num pequeno largo onde ficava um outro café o Versailles, onde comecei a frequentar com meus camaradas. Bem perto ficava a Mutamba, ponto de partida e chegada das camionetas de transportes públicos para diversos pontos da cidade. Percebi da qualidade de vida patenteada pelos brancos. O seu ar feliz nos fins-de-semana enchendo os cafés e restaurantes nas inúmeras esplanadas em contraste com os lugares mais lúgubres dos bairros de negros, onde às vezes me deslocava mas sempre acompanhado. Evitava lá ir fardado, porque havia notícias de rixas valentes com moradores e a soldadesca.
Nas férias pude apreciar a beleza da baía de Luanda à noite, onde na praia do Mussolo se podia tomar banho, beber uma cerveja, acompanhado com marisco que era barato. No dia do meu aniversário com dois amigos do meu pai que residiam na rua Luís de Camões, tive a oportunidade pela primeira vez comer lagosta, o que nunca mais aconteceu na vida. Na marginal extensa e movimentada destacava-se o edifício mais alto, o banco de Angola, era onde se tirava as fotos para mais tarde recordar. Terminava no porto de embarque e desembarque de navios, onde um dia deixei esta terra de indiscutível beleza.
Não havia apartheid, mas os serviços menos qualificados eram para os negros, engraxadores, vendedores de lotaria, empregados nas cozinhas dos restaurantes, arrumadores nos cinemas, e actividades congéneres. O ambiente era de uma certa harmonia social, apesar do ambiente de guerra e na constante presença dos militares.
Nunca perguntei o que estava ali a fazer nem considerei que estava a desperdiçar os melhores anos da minha vida. Mas o regresso foi festejado com alegria. Alegria do dever cumprido e ter conhecido a tão cantada África. Não tenho saudades, porque sou muito lisboeta.
Dedico estas simples palavras à muito humana bloguista Laura, sempre pronta a disponibilizar os seus tempos para me visitar com suas palavras simples.