RSS

Vidas

terça-feira, 24 de março de 2009

Quase toda a gente do bairro da Ajuda conhecia o senhor Manuel da barbearia. Pessoa simples, amigo do seu amigo, o senhor Manuel tinha sempre uma palavra simpática e desculpabilizante, até para os actos mais irreflectidos da sua clientela mais difícil. Era ali que se falava entre o corte de uma trunfa e uma barba escanhoada, das grandes tragédias nacionais e internacionais. Homem culto apenas de sua experiência vivida, era um confesso admirador de Salazar, criador do Estado Novo, repressor de republicanos, maçónicos, comunistas, anarco-sindicalistas, principais responsáveis pela desordem reinante na I república. Nunca enjeitava de falar e ajuizar com conhecimento sobre os acontecimentos mais marcantes da vida do país e sobretudo na morte do rei D. Carlos , que muito o sensibilizou e do seu filho o príncipe Luis Filipe. Tenho a certeza, porque foi minha mãe que me contou, que aquele episódio marcou decisivamente o que iria ser o meu nome próprio. O Sr. Manuel era o meu avô.

3 comentários:

Pascoalita disse...

A sério? Gostei de saber e consigo imaginar muito bem essas animadas conversas com o Senhor Manuel da barbearia :)

E digo mais: Se em vez do bairro da Ajuda fosse Campo de Ourique, ali a meio da Rua Tomás da Anunciação, aí até podíamos ser primos.

Carlos II disse...

Primos ou cunhados! Campo de Ourique!? Sabes onde eu nasci? Em Alcântara, rua Maria Pia. É perto é perto.

Rafeiro Perfumado disse...

Não me choca quando alguém se confessa admirador de Salazar. Sempre e quando gostar de algo não implique que as restantes pessoas não possam ter ideias diferentes, viva a liberdade de escolha. E o Sr. Manuel deveria ser uma excelente companhia no corte de cabelo...

Abraço!