Não gosto de assistir ao desaparecimento de pessoas da família que amei e que ainda amo e dos amigos que entretanto nos abandonaram. Depois é difícil constatar que o nosso corpo já não acompanha a leveza do espírito e ainda ter a mania de julgar ainda ser forte, quando a nossa idade convida ao sossego e não andar metido em "alhadas".
Não gosto que o meu filhote ganhe todos os debates à hora do jantar, só por uma questão de tolerância para com os mais jovens, no intuito de conseguir alguns minutos daquela autoridade que nos é concedida à nossa idade e o deixe ganhar, mesmo que os nossos argumentos sejam os mais fortes.
Não gosto da minha idade.
Não gosto de andar com a preocupação constante com a lista de recomendações do médico - os comprimidos para a tensão arterial, com a helibacter pylori e a atenção à alimentação por causa da diabetes. Da perda daquela loucura saudável dos nossos vinte anos, quando por exemplo, ficávamos convencidos quando nos diziam, ser a mulher o melhor "bom-bom" que havia no planeta. E da falta de paciência para já não poder suportar ouvir o David Gilmour em concertos a solo, quando se adorava ouvir os Pink Floyd.
Não gosto de ficar aqui parado nestes dias de inverno rigoroso, cheio de frio, à espera de Godot. Que pode ser um amigo de infância que desapareceu. Da concretização de um amor que sempre sonhámos. Do futuro e de melhores dias. Do tempo perdido. Da morte.
Foto do escritor irlandês Samuel Beckett, autor dessa peça de teatro extraordinária À Espera de Godot
6 comentários:
Pois eu gosto deste tempo, gosto de estar em casa, gosto de sentir os filhos participar nos debates do benfica e de politica e mesmo que nem saibam lá muito, é uma forma de aprender, ouvindo e falando....gosto de ser como sou, porque sei que mesmo querendo, atrás nunca poderia voltar...gosto de mim, gordita e tudo, é assim que sou...e continuo a dizer que a maior pena minha foi que não cheguei a tempo de conhecer o verdadeiro amor, só isso, e o resto? que se lixe...quero gostar de tudo e continuar assim, ao menos nem me aborreço porque todos os dias descubro que posso pintar, ler, fazer bolos, passar a ferro, enfim..tenho imenso em que ocupar o tempo e tu calhar não!...olha, começa a ajudar me casa...que tal? se passares a roupa a ferro,s entes o quentinho e o frio vai-se, ehhh já ma tás a mandar dar uma volta é? beijinhos.
Alguém gosta de envelhecer? Não me parece...
Há alternativas? Não, a não ser morrer cedo...
Ficar à espera de Godot (o que ou quem quer que seja) parece-me ainda mais absurdo...
Anima-te, que enquanto não for encontrado o elixir da juventude (se é que alguma vez será), não há outro caminho a seguir!
Beijinhos!
Acho que nunca gostei da idade que tenho.
Quando era jovem queria ser mais velho, agora gostava de ser mais novo.
É sempre assim!
Nem vou comentar. Só vou levar essas palavras pra casa e meditar sobre elas.
Um abraço.
Laura,
"...conhecer o verdadeiro amor"
Então e naquele caso ainda estás à espera de Godot.
Godot é uma coisa indefinida em que não sabemos o que é. Uma coisa que nos faz falta mas que desconhecemos.
Também tenho as minhas actividades: também pinto, leio, arrumo a casa, faço pesquisa na net, tenho tarefas na área do desporto e estou com a família.
Não estou aborrecido pela vida que tenho. Mas, gostaria de fazer muitas coisas na vida e a idade já não permite. O tempo que está à frente começa a ser curto. É chato.
Teté,
O escritor com "À Espera de Godot", queria dizer que na vida esperamos sempre algo que nos satisfaça plenamente. E que essa espera é um absurdo.
A velhice deve ser encarada com naturalidade mas é impeditiva de muitas coisas.
Roderick, (agora com visual actual),
É curioso isso que escreves. Porque será que temos de raciocinar assim? Não estaremos assim a contribuir para aquela ideia do escritor!?
Moço; ainda me lembro do filme francês À espera de Godot,deixa ver se era com a Anie Girardot , o actor ja não me lembra o nome agora, penso eu que era ela a actriz... acho que fui vê-lo ao cine Miramar, em Luanda, com o meu pai, iamos quase sempre os dois aos dias da semana à noite, ou a pé para ele estender a spernas, era pertinho, uns 15 minutos a pé, por estradas ladeadas de belissimas e cheirosas árvoes, o Bairro mais rico de casas mais caras era ali, onde viviam Consules, Embaixadores etc etc, e seguiamos por ali entre amenas conversas e eu adorava dar o braço ao pai e lá iamos nós... muitos filmes vi a seu lado. Por vezes a mãe também ia, dependia de lhe apetecer ou não!...
Pois é, vamos envelhecendo, e vamos deixando muitas coisas para o lado, mas, se realmente quisermos continuar a percorrer mais cmainhos, só temos de nos envolver em mais projectos e andor..o corpo mais treinado e com mais ginástica, demora mais a envelhecer...eu que o diga que as minhas cadeiras já dão de si ao enfiar as calças...bolas, mas ja disse pra mim(rapariga exercita-te senão) mas como já não ouço os outros, nem me ouço a mim e um dia...e gorda cada vez mais gorda, ai minha nossa...enfim, envelhecer é a palavra exacta, embora nem queiramos ouvir falar nela...
Beijinho da laura.
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