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Fim de Citação

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Vou apagar o "Luz itânia."

A minha intenção inicial ao criar o "Luz itânia" era fazer amigos e escrever sobre as grandezas e misérias de Portugal. Realçar os seus feitos históricos, os artistas, o património, os lugares e as suas gentes. Terminei com temas gerais e biográficos e outros assuntos, mais ou menos, generalistas. Não fui coerente.

Conto que voltem a visitar depois de um breve período de descanso, o meu novo blogue "Eloquente", http://o-eloquente.blogspot.com


Até já.

Resultado Pobre de uma Revolução

quinta-feira, 23 de abril de 2009


Com o 25 de Abril de 1974 morreu definitivamente o Portugal providencialista - corrente espiritual do pensamento que teve em nomes como Agostinho da Silva, Fernando Pessoa e Sampaio Bruno, o expoente máximo de uma ideia de pátria, ressurgindo na década de 60 na obra de Carlos Eduardo Soveral, sobre a ideia da pátria una-pluricontinental.

Depois de um período marcado pelo vanguardismo revolucionário de inspiração comunista, o país entrou na Comunidade Económica Europeia. É o Portugal dos fundos comunitários, da tecnocracia, da prevalência das razões económicas, servidas por técnicos assépticos, sem opinião, oportunistas ao serviço dos chefes de ocasião, diga-se politicos. Dos orgãos de comunicação social - jornais e televisões, revistas, criando eles próprios os novos valores, modas e hábitos e vontades de consumo das populações, também eles ao serviço de interesses economicistas das grandes empresas entretanto criadas. É o Portugal de uma nova geração iPod e telemóvel em riste e da net, não obstante afastada e isolada do conhecimento da sua própria identidade histórica e cultural.

Com estas ideias de merda, exclusivamente utilitárias, esta gente instalada - como dizia alguém - nem sequer conseguiriam no século XV descobrir a Madeira.

É esta data 25 de Abril, que nos pedem mais uma vez para celebrar. Para lembrar os seus heróis e os seus nomes, as canções, os factos que a esta geração já nada diz. Fica para trás para as pessoas da minha geração a utopia da construção de uma sociedade mais justa, de liberdade, fraternidade e de humanismo.

O Portugal que fui educado, que aprendi a amar e a respeitar, independentemente dos regimes e dos desígnios da história, morreu definitivamente em 1974.

Amo-te!

terça-feira, 21 de abril de 2009


Numa entrevista concedida a Maria João Seixas, a escritora Agustina Bessa-Luís, por muitos considerada a melhor escritora portuguesa da actualidade, dizia que as melhores cartas de amor, são e foram geralmente escritas por homens. Não me espanta esta afirmação da escritora. E compreende-se. Já há muito tenho a opinião que, os homens possuem uma maior capacidade para amar.

É o homem que tem a iniciativa e procura o seu objecto de amor. Aí ele já leva vantagem relativamente à mulher que, perante o facto da existência desse amor, apenas decidirá se o "assunto" tem pernas para andar. É por isso é que se diz que são as mulheres que escolhem. Mas não é verdade.

Gravura de um quadro de Gustav Klimt

Analfabeto Emocional

quinta-feira, 16 de abril de 2009


Segundo os jornais, a psiquiatra austríaca a quem foi dada a tarefa de avaliar Joseph Fritz, o protagonista de uma das histórias mais macabras que me foi possível ter conhecimento - o homem que encarcerou a sua própria filha durante 24 anos, mantendo com ela relações sexuais - descreve o nosso homem como um analfabeto emocional.
Nunca tinha ouvido esta expressão, certamente muito técnica, e diz que é caso único. Bem, com estas características tão montruosas talvez. Mas nós continuamos a não saber o que vai dentro de nós. Nem queremos saber. No entanto vamos sabendo de alguns aspectos exteriores nos outros. Como o amor exagerado por animais. O receio de elogiarmos e amar os outros. Atitude mórbida de conhecer os aspectos mais degradantes da sociedade. Valorizar em primeiro lugar, os bens materiais em detrimento às coisas do espirito. O alto valor da pertença dos bens e de pessoas. Encontrar nos outros as causas dos nossos insucessos e problemas. Enfim, uma designação que assenta como uma luva em todos nós.


Basta Ya!

sábado, 11 de abril de 2009

Pois é! Nós temos que ser realistas. Eu não tenho jogadores capazes de fazer uma equipa que condiga com o prestigio do clube. Admito que também não tenho sido sincero para com os adeptos, porque, evidentemente, os senhores que comandam o SLB não podem dizer a verdade. Devia ser eu, como principal responsável que num exercício de honestidade fosse capaz de informar os adeptos que existem outros melhores do que nós, até equipas com orçamentos mais reduzidos. Temos que falar a verdade. Até para a próxima época.

Democracia?

terça-feira, 7 de abril de 2009

"Todos somos feitos do mesmo barro, mas não do mesmo molde" Provérbio Mexicano.

Hoje na minha caixa de correio, recebi um vídeo de cenas lamentáveis de um espancamento brutal de um jovem por um gang na cidade do Porto. Tudo isto, perante a passividade e indiferença de algumas pessoas que presenciaram esta cena.

O pior que pode acontecer num estado de direito é a justiça não funcionar, ou apresentar aos cidadãos o espectáculo degradante de impotência perante os diversos interesses instalados. É isso que neste sítio mal frequentado se passa neste momento. Como é que a população responde perante isso!? Com o indiferentismo e o medo. E o papel da polícia? Esses andam mais preocupados com os seus problemas corporativos e igualmente vivendo com os seus receios, do que assegurar a segurança das pessoas. Temos hoje uma democracia formal com um povo sonolento entretido com o futebol e com o preenchimento dos boletins do euro-milhões, vivendo para o Estado, enquanto que o mais certo seria o Estado estar ao serviço dos contribuintes. As diversas formas de violência que vamos constatando, são os pequenos cumes de um vulcão, sempre a crescer e cada vez mais visível, num mundo falho de calor humano e de luz (conhecimento e clarividência)que vem do alto e que nos inspira.


As Queixas da Cegonha

sexta-feira, 3 de abril de 2009


O mundo era mundo por ser imundo e que a Lusitânia era o que era para que ninguém nela pudesse luzir.

Extraído do "Bestiário Lusitano" de Alberto Pimenta.


Um autêntico e alegre fim-de-semana.

Em 2008

terça-feira, 31 de março de 2009


Ficámos a saber:

OS ÚNICOS CASINOS QUE DÃO PREJUIZO...SÃO OS BANCOS!


Dia Mundial do Teatro

sexta-feira, 27 de março de 2009


Sou um grande admirador da Companhia de Teatro Cornucópia.

Ia muitas vezes assistir aos seus excelentes espectáculos. Já há muito tempo que não vou, embora tenha visto outras representações teatrais em Almada no Teatro Municipal.

Conhecia um actor que fazia parte do elenco da companhia do Luís Miguel Cintra, que nos finais dos anos 80 representava a figura de Otelo na conhecida peça de William Shakespeare. Fui acompanhado e no final do espectáculo decidi cumprimentar o actor, pelo que sugeri à pessoa que estava comigo que me acompanhasse naquela minha ideia, o que foi negado. Retorqui. Porque é que não queres ir comigo? A resposta é fantástica. Porque iria para casa e perder a fantasia daquela personagem, que agora de calças jeans e de t-shirt iria estar ali à minha frente.


Vidas

terça-feira, 24 de março de 2009

Quase toda a gente do bairro da Ajuda conhecia o senhor Manuel da barbearia. Pessoa simples, amigo do seu amigo, o senhor Manuel tinha sempre uma palavra simpática e desculpabilizante, até para os actos mais irreflectidos da sua clientela mais difícil. Era ali que se falava entre o corte de uma trunfa e uma barba escanhoada, das grandes tragédias nacionais e internacionais. Homem culto apenas de sua experiência vivida, era um confesso admirador de Salazar, criador do Estado Novo, repressor de republicanos, maçónicos, comunistas, anarco-sindicalistas, principais responsáveis pela desordem reinante na I república. Nunca enjeitava de falar e ajuizar com conhecimento sobre os acontecimentos mais marcantes da vida do país e sobretudo na morte do rei D. Carlos , que muito o sensibilizou e do seu filho o príncipe Luis Filipe. Tenho a certeza, porque foi minha mãe que me contou, que aquele episódio marcou decisivamente o que iria ser o meu nome próprio. O Sr. Manuel era o meu avô.

A 2ª. Visão

sexta-feira, 20 de março de 2009

No meu último post "Manifestações", que se reportava ao nosso crónico e absurdo modo existencial, deixei-me levar por um estado de alma momentâneo que não aproveita de maneira nenhuma a forma descontraída e sem tibiezas dos visitantes do Luz.itânia, por isso vou fugir prá frente, deixar-me de merdas filosóficas e escrever nas paredes da vida:

Não podes deitar-te com todas as mulheres do mundo, mas deves fazer um esforço. (do livro de crónicas de A. Lobo Antunes)


Um grande fim-de-semana.

Manifestações

terça-feira, 17 de março de 2009

A vida é tão breve
Será que a vivemos,
ou não passa tudo de um sonho, de uma ilusão.
Faço a pergunta.

*
Nascemos, crescemos, morremos. Mas não devia ser assim. Não devia ser só isto. Existe muita perversidade nesta coisa feita. O pior é que as pessoas deixam-se levar e um dia se resignam a perecer. Para quê tanto investimento pessoal? Tanto ardor na defesa de tantas convicções? Um dia morre-se. Não é justo.
*
Sou um fóssil vivo
É Inverno
Verão sonho de caracol
Oceano Pacífico
Sou um fóssil vivo
De regresso
à calma da pedra,
até que o musgo
cresça em meus lábios.

Victor Ferreira


*
Que é o meu nada, comparado ao horror que vos espera?
(Vidas, Iluminações Uma Cerveja no inferno, Rimbaud

Rotinas

segunda-feira, 9 de março de 2009


Uma das grandes conquistas dos trabalhadores foram o direito às suas férias. Uma grande invenção para tornar os trabalhadores mais saudáveis e preparados para um novo ciclo de rotinas. Mas não há bela sem o senão.

Hoje há especialistas para melhor programar as nossas férias. Tudo é concebido até ao mais pequeno detalhe. Está tudo inventado para nos deixar mais ocupados para não haver direito à nossa ociosidade. São as visitas guiadas a museus, o ténis, o golfe, as caminhadas a pé e a cavalo, os concertos de música popular e os arraiais. Para além do imenso que fazer com a preparação dos farnéis para as rotinas da praia.

Há quem diga que as férias assim dão muito trabalho e que o melhor, é contratar uma cozinheira, uma empregada de limpeza e uma ama e ficar em casa num luxo e sossego absoluto.


Cinema

quarta-feira, 4 de março de 2009


Para terminar a minha lista de prazeres confessáveis, dependências e obsessões, vou aqui reportar um dos meus antigos amores, eis o cinema.

Desde pequeno, porque lá nisso a minha mãe também era grande cinéfila, que ela procurou me educar e penetrar nos meandros da chamada sétima arte.

A minha primeira incursão na magia das figuras da sala escura, foi no Édan (hoje parece-me que é um hotel) nos Restauradores. O filme era o Tarzan, O Homem Macaco, com o Johnny Weissmuller e a Maureen O' Sullivan.

Na minha adolescência ia quase todos os dias ao cinema e onde aprendi a gostar do cinema europeu. Na altura o cinema italiano com o neo-realismo e o cinema francês com a nouvelle vague dava cartas. Não esquecendo o cinema inglês, evidentemente. Claro que acho o cinema americano como arte e de fazer indústria que é o melhor, mas o cinema europeu fala a linguagem de qualquer europeu.

Vem tudo isto a propósito de falar de um dos meus prazeres e de ter visto esta semana o filme de Cédric Klapisch, Paris. Uma história de diversas histórias de acontecimentos que se cruzam no dramatismo de diversas vidas na bela cidade de Paris. A emigração, a sida e as relações liberais de jovens casais, os desencontros de famílias, o desemprego e o afundar da classe média. Conhecido, não!?

O melhor do cinema europeu. Um prazer a revisitar.

A Oeste de Novo

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Peniche dias 22,23,24

O mar é enorme, e a vontade de lá ficar



O Sol. O sossego e a aragem húmida da noite. Um livro. A solidão e os passeios longos junto às dunas da praia. Eis de novo Peniche. Confesso que não dei pelos dias passados.

A Noite

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009


Foto tirada no silêncio de Góis em 2006


A noite sempre me fascinou desde os meus tempos de adolescente. No verão nas designadas férias grandes, havia longas dissertações nas esplanadas sobre música, cinema e claro está miúdas. Mas também gostava da solidão que a noite proporciona. No seu silêncio se faz o resumo do dia e a preparação do dia seguinte. Ajuda à reflexão, nostalgia, invenção e ao mistério.

Que melhor Daniel Filipe na "Invenção do Amor e outros poemas" para definir a noite.

Mas há a noite. O estar sozinho e no entanto acompanhado - servo de um deus estranho cumprindo o ritual jamais completo.

Salazar

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009


Interrompo aqui as minhas considerações sobre os meus prazeres, para vos falar do ressurgimento, mais uma vez de... Salazar.
*
Nunca foi uma personalidade que me tivesse causado qualquer ponta de entusiasmo e nem sequer de repulsa. O seu regime era obsoleto, mas que compreendi dentro do contexto da época. Chegando mesmo, nalguns casos a fazer uma repreensível obra. Mas não é de política que desejava escrever sobre tão controversa figura da nossa história recente. Mas sim da descoberta de uma nova faceta da sua vida dada ultimamente pela comunicação social e por livros editados pelos seus mais próximos ou por jornalistas ansiosos por sensacionalismos. A faceta de playboy. Vamos lá, seduzir a Soraia Chaves ou melhor, uma das belas mulheres interpretadas pela Soraia Chaves e mais uma dúzia delas do seu tempo, atenção, isso não é para todos!


Café

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009


Adoro café. Todos os dias bebo 4 "bicas", apesar das indicações médicas para só beber duas chávenas deste precioso néctar. Dose que foi aumentada desde que deixei de fumar. O primeiro do dia logo pela manhã é simplesmente divinal.

Ainda me lembro em pleno inverno, a minha avó fazer todos-os-dias, numa cafeteira de alumínio cheia de café de cevada e distribuir para os membros adultos da família, acompanhados com bolos em forma de oito que ela própria também fazia.

*
Um homem é o que ele lê, come e bebe na vida.
Logo deve escolher a melhor leitura, a melhor comida, e a melhor bebida, o café.
Johann Wolfgang von Goethe

Ler

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009


Ler bem é um dos grandes prazeres que a solidão nos pode proporcionar. (Prólogo à obra de Harold Bloom, Como Ler e Porquê)

Não é fácil o prazer da leitura. É necessário disponibilidade, estudo, reflexão e estar disposto a descobrir os pontos mais vulneráveis e invisíveis de nós próprios. Por vezes, conhecimentos que temos receio que, possa subverter a nossa querida e confortável consciência.


Pedras Rolantes (Rock'n'roll)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009


As sensações são os detalhes que constroem a história da nossa vida (Oscar Wilde)

Na minha adolescência um dos prazeres máximos, era ouvir música rock, até estalar a cabeça.
Ouvir aquela música maluca era fazer um corte (com os poderes, os pais, com a sociedade).
Ainda hoje é um dos meus prazeres predilectos.
Na época no seio da malta havia o dilema, quem era o melhor grupo de rock. Se o pop/music-rock dos Beatles com algumas canções de certo modo não engajadas do John Lennon ou os rifs da guitarra de Keith Richard e as canções virulentas dos Rolling Stones. Sempre preferi estes.
Hoje a música rock como paradigma de roturas e cisões sociais já pertence ao passado. Goza um estatuto de respeitabilidade, tal e qual como a música erudita.
Vamos lá deixar fluir a coisa e ouvir os primeiros acordes de You Can't Always Get What You Want dos Rolling Stones. Ui!!!


Pensar o Pior

sábado, 31 de janeiro de 2009


Um dos meus prazeres mais requintados e confesso mais aberrantes é: pensar e presumir mal de uma pessoa e ao fim de algum tempo constatar que afinal...tinha razão.

Uma forma de o medíocre convencido imitar a grandeza é não dizer mal de ninguém. (Vergílio Ferreira)

A Primeira Vez

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


Naquele tempo bastava 100 "paus" e um tio convexo para ir às meninas. Sim porque nestas coisas das iniciações sexuais há sempre um familiar que se compraz em ajudar um jovem a sair das saias da mãe. E lá foi de gravata e fato cinzento escuro para impressionar. Bom, naquele tipo de indústria duvido que tivesse impressionado por aí além. No ar havia cheiro a sexo, fumo e uma música manhosa vinda do pequeno palco tocada por quatro músicos vestidos de palhaços. Estava bem disposto e desejoso de encontrar uma amante hábil praticante da arte do amor. Saiu uma hora depois do quarto número12 exterior ao Clube com a decepção estampada no rosto. Pensou lá voltar, mas desta vez com o espírito voltado para a obscenidade.


Cena do filme The Graduate do realizador Mike Nichols com Dustin Hoffman e Anne Bancroft e música muito boa de Simon & Garfunkel.


Os Meus Prazeres

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Palavra de honra que não faço nada. Ou melhor, não exerço hoje em dia qualquer profissão. Sinto-me bem assim. Mas já fiz pela vida. Alcancei a minha independência económica e a minha liberdade, embora esta seja um bocadinho relativa. Digo independência económica, porque recebo o meu sustento mensalmente sem ter a necessidade de trocar as minhas mais valias. Liberdade de pôr em prática a minha agenda sem imposições de qualquer espécie.

Um dos meus prazeres preferidos são as sestas. Adoro fazer sestas. Nada melhor do que cultivar os propósitos dos povos do sul. Passar pelas brasas no horário mais apropriado entre o almoço e o jantar. Ainda recentemente li que até os inimigos do ócio, foram, também eles uns grandes praticantes, por exemplo, Winston Churchill, que segundo a sua biografia abominava a preguiça nas outras pessoas. Diz-se também que, no Paraíso dorme-se o tempo todo. Portanto não se deve lutar ou tentar resistir a uma boa soneca. É o que eu faço.

Proverbial

terça-feira, 20 de janeiro de 2009


À medida que vamos avançando na idade, mais existe a vontade de fazer um balanço da nossa passagem pelos dias.

Tive uma infância feliz. Conheci muita gente interessante. Os menos interessantes, também me ajudaram a olhar melhor o mundo em que vivemos.

Conheci a guerra, a paz e o amor.

Constitui família, mesmo constatando hoje quanto de problemático isso acarreta, apesar das alegrias. Não desisto de nada agora, apesar do caminho que tenho pela frente estar a encurtar e de ainda ter o desejo de fazer muita coisa. Não perguntar, para quê. Porque o extraordinário é precisamente não ter que se dizer, para quê.

Carta a Cristiano Ronaldo

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009



Em primeiro quero dar os meus parabéns pelo feito pelo qual és merecedor. Acho sinceramente que mereces esta distinção, porque de facto, és um prodígio.
No entanto, deixa-me dizer que não sinto como português qualquer pontinha de orgulho, como querem fazer crer, pois considero que este troféu apenas foi um triunfo meramente pessoal. Portanto, não me aquece nem arrefece o facto de ser teu compatriota.
Para que fosses uma pessoa digna da minha admiração total e considerar o teu exemplo como um factor importante para a juventude portuguesa, tinha que gostar de outras qualidades pessoais para além de simplesmente seres um grande jogador de futebol. É que para além das qualidades artísticas tinhas que ter um carácter mais humilde e não fazer alarde de alguns exercícios de ostentação de riqueza com os teus proventos.
Para terminar quero lembrar-te outros teus colegas de profissão que ganharam idêntico prémio e título, embora em épocas e conjunturas diferentes, Eusébio da Silva Ferreira e Luís Figo, que admiro muito precisamente por essas qualidades que referi.

Os meus cumprimentos.


Parado cheio de frio á espera de Godot

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009


Não gosto da minha idade.


Não gosto de assistir ao desaparecimento de pessoas da família que amei e que ainda amo e dos amigos que entretanto nos abandonaram. Depois é difícil constatar que o nosso corpo já não acompanha a leveza do espírito e ainda ter a mania de julgar ainda ser forte, quando a nossa idade convida ao sossego e não andar metido em "alhadas".

Não gosto que o meu filhote ganhe todos os debates à hora do jantar, só por uma questão de tolerância para com os mais jovens, no intuito de conseguir alguns minutos daquela autoridade que nos é concedida à nossa idade e o deixe ganhar, mesmo que os nossos argumentos sejam os mais fortes.

Não gosto da minha idade.

Não gosto de andar com a preocupação constante com a lista de recomendações do médico - os comprimidos para a tensão arterial, com a helibacter pylori e a atenção à alimentação por causa da diabetes. Da perda daquela loucura saudável dos nossos vinte anos, quando por exemplo, ficávamos convencidos quando nos diziam, ser a mulher o melhor "bom-bom" que havia no planeta. E da falta de paciência para já não poder suportar ouvir o David Gilmour em concertos a solo, quando se adorava ouvir os Pink Floyd.

Não gosto de ficar aqui parado nestes dias de inverno rigoroso, cheio de frio, à espera de Godot. Que pode ser um amigo de infância que desapareceu. Da concretização de um amor que sempre sonhámos. Do futuro e de melhores dias. Do tempo perdido. Da morte.



Foto do escritor irlandês Samuel Beckett, autor dessa peça de teatro extraordinária À Espera de Godot


2009

terça-feira, 6 de janeiro de 2009



O ano de 2008 foi muito mau, não deixando saudades pelo que aconteceu em Portugal e no Mundo. Pelo menos para mim. Mas também não acredito que em 2009 chegue a felicidade. Quanto a isso uma pedra no assunto. Por isso é que acho desproporcional (palavra muito utilizada ultimamente devido aos acontecimentos em Gaza) a alegria expressa nos portugueses na passagem de mais um ano, acompanhados de muito beijinhos, abraços, muitos saltinhos, ao som das rolhas das garrafas de champanhe e do record de sms enviados engarrafando o tráfego sideral das comunicações. Claro que também eu, simplesmente por tradição, e também porque tenho família, abri uma garrafa de champanhe e fui para a janela ouvir os gritinhos, as panelas a bater e até os tirinhos que se ouviam naquela noite escura. Mas nós estamos a festejar o quê?
É por estas e por outras que eu continuo cada vez mais só. E cada vez mais confuso e sem pachorra para aturar estes dias em que é necessário estar feliz.

Uma pedra sobre o assunto

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

2008. Zero Horas. Dia 31 de Dezembro. Quero fugir aos lugares comuns nestas alturas. Ás palavras de circunstância e da alegria breve e obrigatória. Rejeito os optimismos e a procura da felicidade já ao virar da esquina. Daí que coloco uma pedra no assunto. Até amanhã!

Não é bonita a morte
é preciso dizê-lo
e depois põe-se uma pedra
sobre o assunto.

Carlos Alberto Machado