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Pensar o Pior

sábado, 31 de janeiro de 2009


Um dos meus prazeres mais requintados e confesso mais aberrantes é: pensar e presumir mal de uma pessoa e ao fim de algum tempo constatar que afinal...tinha razão.

Uma forma de o medíocre convencido imitar a grandeza é não dizer mal de ninguém. (Vergílio Ferreira)

A Primeira Vez

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


Naquele tempo bastava 100 "paus" e um tio convexo para ir às meninas. Sim porque nestas coisas das iniciações sexuais há sempre um familiar que se compraz em ajudar um jovem a sair das saias da mãe. E lá foi de gravata e fato cinzento escuro para impressionar. Bom, naquele tipo de indústria duvido que tivesse impressionado por aí além. No ar havia cheiro a sexo, fumo e uma música manhosa vinda do pequeno palco tocada por quatro músicos vestidos de palhaços. Estava bem disposto e desejoso de encontrar uma amante hábil praticante da arte do amor. Saiu uma hora depois do quarto número12 exterior ao Clube com a decepção estampada no rosto. Pensou lá voltar, mas desta vez com o espírito voltado para a obscenidade.


Cena do filme The Graduate do realizador Mike Nichols com Dustin Hoffman e Anne Bancroft e música muito boa de Simon & Garfunkel.


Os Meus Prazeres

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Palavra de honra que não faço nada. Ou melhor, não exerço hoje em dia qualquer profissão. Sinto-me bem assim. Mas já fiz pela vida. Alcancei a minha independência económica e a minha liberdade, embora esta seja um bocadinho relativa. Digo independência económica, porque recebo o meu sustento mensalmente sem ter a necessidade de trocar as minhas mais valias. Liberdade de pôr em prática a minha agenda sem imposições de qualquer espécie.

Um dos meus prazeres preferidos são as sestas. Adoro fazer sestas. Nada melhor do que cultivar os propósitos dos povos do sul. Passar pelas brasas no horário mais apropriado entre o almoço e o jantar. Ainda recentemente li que até os inimigos do ócio, foram, também eles uns grandes praticantes, por exemplo, Winston Churchill, que segundo a sua biografia abominava a preguiça nas outras pessoas. Diz-se também que, no Paraíso dorme-se o tempo todo. Portanto não se deve lutar ou tentar resistir a uma boa soneca. É o que eu faço.

Proverbial

terça-feira, 20 de janeiro de 2009


À medida que vamos avançando na idade, mais existe a vontade de fazer um balanço da nossa passagem pelos dias.

Tive uma infância feliz. Conheci muita gente interessante. Os menos interessantes, também me ajudaram a olhar melhor o mundo em que vivemos.

Conheci a guerra, a paz e o amor.

Constitui família, mesmo constatando hoje quanto de problemático isso acarreta, apesar das alegrias. Não desisto de nada agora, apesar do caminho que tenho pela frente estar a encurtar e de ainda ter o desejo de fazer muita coisa. Não perguntar, para quê. Porque o extraordinário é precisamente não ter que se dizer, para quê.

Carta a Cristiano Ronaldo

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009



Em primeiro quero dar os meus parabéns pelo feito pelo qual és merecedor. Acho sinceramente que mereces esta distinção, porque de facto, és um prodígio.
No entanto, deixa-me dizer que não sinto como português qualquer pontinha de orgulho, como querem fazer crer, pois considero que este troféu apenas foi um triunfo meramente pessoal. Portanto, não me aquece nem arrefece o facto de ser teu compatriota.
Para que fosses uma pessoa digna da minha admiração total e considerar o teu exemplo como um factor importante para a juventude portuguesa, tinha que gostar de outras qualidades pessoais para além de simplesmente seres um grande jogador de futebol. É que para além das qualidades artísticas tinhas que ter um carácter mais humilde e não fazer alarde de alguns exercícios de ostentação de riqueza com os teus proventos.
Para terminar quero lembrar-te outros teus colegas de profissão que ganharam idêntico prémio e título, embora em épocas e conjunturas diferentes, Eusébio da Silva Ferreira e Luís Figo, que admiro muito precisamente por essas qualidades que referi.

Os meus cumprimentos.


Parado cheio de frio á espera de Godot

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009


Não gosto da minha idade.


Não gosto de assistir ao desaparecimento de pessoas da família que amei e que ainda amo e dos amigos que entretanto nos abandonaram. Depois é difícil constatar que o nosso corpo já não acompanha a leveza do espírito e ainda ter a mania de julgar ainda ser forte, quando a nossa idade convida ao sossego e não andar metido em "alhadas".

Não gosto que o meu filhote ganhe todos os debates à hora do jantar, só por uma questão de tolerância para com os mais jovens, no intuito de conseguir alguns minutos daquela autoridade que nos é concedida à nossa idade e o deixe ganhar, mesmo que os nossos argumentos sejam os mais fortes.

Não gosto da minha idade.

Não gosto de andar com a preocupação constante com a lista de recomendações do médico - os comprimidos para a tensão arterial, com a helibacter pylori e a atenção à alimentação por causa da diabetes. Da perda daquela loucura saudável dos nossos vinte anos, quando por exemplo, ficávamos convencidos quando nos diziam, ser a mulher o melhor "bom-bom" que havia no planeta. E da falta de paciência para já não poder suportar ouvir o David Gilmour em concertos a solo, quando se adorava ouvir os Pink Floyd.

Não gosto de ficar aqui parado nestes dias de inverno rigoroso, cheio de frio, à espera de Godot. Que pode ser um amigo de infância que desapareceu. Da concretização de um amor que sempre sonhámos. Do futuro e de melhores dias. Do tempo perdido. Da morte.



Foto do escritor irlandês Samuel Beckett, autor dessa peça de teatro extraordinária À Espera de Godot


2009

terça-feira, 6 de janeiro de 2009



O ano de 2008 foi muito mau, não deixando saudades pelo que aconteceu em Portugal e no Mundo. Pelo menos para mim. Mas também não acredito que em 2009 chegue a felicidade. Quanto a isso uma pedra no assunto. Por isso é que acho desproporcional (palavra muito utilizada ultimamente devido aos acontecimentos em Gaza) a alegria expressa nos portugueses na passagem de mais um ano, acompanhados de muito beijinhos, abraços, muitos saltinhos, ao som das rolhas das garrafas de champanhe e do record de sms enviados engarrafando o tráfego sideral das comunicações. Claro que também eu, simplesmente por tradição, e também porque tenho família, abri uma garrafa de champanhe e fui para a janela ouvir os gritinhos, as panelas a bater e até os tirinhos que se ouviam naquela noite escura. Mas nós estamos a festejar o quê?
É por estas e por outras que eu continuo cada vez mais só. E cada vez mais confuso e sem pachorra para aturar estes dias em que é necessário estar feliz.

Uma pedra sobre o assunto

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

2008. Zero Horas. Dia 31 de Dezembro. Quero fugir aos lugares comuns nestas alturas. Ás palavras de circunstância e da alegria breve e obrigatória. Rejeito os optimismos e a procura da felicidade já ao virar da esquina. Daí que coloco uma pedra no assunto. Até amanhã!

Não é bonita a morte
é preciso dizê-lo
e depois põe-se uma pedra
sobre o assunto.

Carlos Alberto Machado