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Lote 46

quinta-feira, 30 de outubro de 2008


É verdade que a vida naquele tempo era triste e cinzenta. Os dias eram incomensuráveis, mas ainda assim havia calor e sorrisos incandescentes, nem que fosse sentido de forma contraditória. O largo ou a praceta de terra batida era o local de encontro da pequenada. Os rapazes jogavam à bola. As raparigas entretinham-se a saltar à corda, perante o olhar, por vezes severo ou embevecido dos mais velhos. As estações do ano eram todas iguais e previsíveis. Era difícil o mundo chegar até nós. Era assombroso o nosso isolamento, mesmo face às coisas mais belas da natureza e aos importantes acontecimentos que se erguiam após a demência e das cinzas de 1946. O pesadelo terminara vindo das vozes da rádio. Sr. Manuel a guerra acabou. Os aliados venceram! Meu avô deu um pulo na cadeira, tendo saído para a rua festejar. Havia uma grande necessidade de as pessoas se conhecerem e no pátio onde vivíamos todos eram solidários e de uma franqueza extraordinária. Foi assim nos tempos da minha infância. Esse mundo simples acabou definitivamente.

7 comentários:

L.S. Alves disse...

Outros tempos Carlos. O mundo era maior e talvez por isso as pessoas ficassem mais próximas.
Um abraço.

Laura disse...

Por falares nisso, vei-ome à recordação o tempo dos meus 4, 5 e 6 anos, o rádio Siemens do meu pai, até era bonito e grandinho, eu adorava a musica que saia daquela caixita, e tive o meu largo, as minhas ruas, os meus amigos, fomos aos passaros, aos lagartos andamos á pedrada por dá cá aquela palha, iamos ao rio nadar e apanhar cobras de água, e quando nos zangavamos com nuestros hermanos, eram seixos do rio para cá e lá e claro, corriamos a sete pés para cima d aponte, de lá atiravamos a spedras que metiamos nos bolsos, onde desse e falavamos alto e bom som (ainda ouvia naquela altura) galegos da para redonda, filhos da puta não podem co a bomba...e as mães deles a lavarem a roupa no rio, ah, gandas lembranças meu amigo... e esses tempos já não se vêm, agora nem conhecemos os vizinhos, nem queremos, nem vale a pena por vezes, apenas sai aquele Bom dia ou o que for..Beijinho e tem um bom Domingo...

Teté disse...

Os portugueses exultaram, sim, com o fim da guerra e com a vitória dos Aliados. Também para eles os tempos estavam difíceis, tinham os vidros das janelas presos com fitas gomadas, racionamento de comida e longas filas para a conseguir obter...

Além de tudo o mais, muitos espanhóis tinham-se refugiado no nosso país para fugir à guerra civil no seu país e bastantes crianças estrangeiras, dos diversos países em conflito, também se alojaram cá.

Isto pelo que me contaram e também por livros e artigos que li, que nessa época ainda não tinha nascido... :)

Beijoca, Carlos!

Carlos II disse...

Alves,
mais próximas e mais aconchegadas. As famílias eram numerosas e viviam juntas.

Laura,
hoje já não há pátios nem largos e eiras para os putos andarem a saltar ao eixo. É só prédios e condomínios fechados, as ruas cheias de automóveis e o sol à espreita.

teté,
É isso mesmo. Eu tinha pouca idade quando isso sucedeu. Meu avô é quem meu fazia os relatos.

Laura disse...

É verdade nino carlitos e por isso a maioria das crianças não sabe o que perdeu e nós o que ganhamos, mas, é pena pois o nosso viver tão livre e cheio de natureza, pessoas que tomavam conta de nós, vizinhos, primas etc etc agora creche, escolinha depois da escola e que prisão para os putos!...é a vida moderna...

Pascoalita disse...

Pois todos os dias me defronto com uma enorme saudade desse mundo simples :(

Pascoalita disse...

Voltei para rever a "tua" grafenola" Hummm se visse um assim, comprava-o :))