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Ano de 68 e outras histórias associadas

segunda-feira, 29 de setembro de 2008


Com a certeza da minha incorporação no serviço militar e o espectro da guerra colonial no horizonte próximo, fiz uma viagem até ao Algarve onde passei 5 dias. O verão estava quente e era o ano de brasa. Houve o Maio de 68 em Paris e a Primavera de Praga. Dois factos políticos importantes. Ouvia-se na rádio, Scott McKenzie, S. Francisco Be Sure to Wear Flowers in your Hair.
Abasteci-me de algumas roupas nos Porfirios uma loja da baixa de Lisboa virada para a moda jovem, que rivalizava com o Grandella e a Casa Africana. E lá fui para o sul. Assentei arraiais em casa de familiares (primos bem afastados) em Silves e foi lá que conheci a Monika, uma sueca abrasiva que adorava latinos. Estive com ela numa BOA (Base de Operações Avançado). Falamos de tudo e até da obra completa do Ingmar Bergman, que eu só conhecia Os Morangos Silvestres.
O Algarve naqueles tempos já estava a despontar, mas ainda não havia a moda das lojas Pizza Hot ou Burger King, daí ter levado o tempo todo a comer sandes de atum, para guardar algum dinheiro para as festas com a Monika. Eu andava vitorioso. Era a primeira vez que conhecia uma sueca. Antes só conhecia a Anita Ekberg e a Ingrid Bergman dos écrans de cinema. Um dia quem estragou aquele sucesso que se estendeu por dois dias, foi a Elsa que ficou fascinada com a minha cultura cinematográfica, ao ouvir a descrição que fiz da cena mais famosa do filme O Ultimo Tango em Paris com o Marlon Brando e a Maria Schneider. A Elsa era uma algarvia cheia de arrebites que afastou definitivamente a sueca. Conhecia todos os parques de diversão do Algarve o que me divertiu imenso. Estava muito interessada em sair dali (stupid place to be) segundo ela. Pois, mas o meu futuro é que não era lá muito risonho. E não foi!

7 comentários:

L.S. Alves disse...

Carlos obrigado por compartilhar um pouco da história de sua vida conosco.
Um abraço e espero saber mais sobreseus momentos nesse pedaço da história.

Laura disse...

ehhh mas quem é que na gostava de Suecas? hum...eram muito mais desprendidas de preconceitos que as nossas ninas ehhhhhh...bem, tadinho de ti,deves ter comido uma enorme quantidade de latas de atum, para chegar para pagar o resto da cebolada!... o que me ri agora e continuo a rir à tua custa moço...boa...ao menos aproveitaste o tempo, a idade e o atum!...jinho a ti.

Daniel disse...

Carlos II

Conheci um pouco de quase tudo o que falas. O Algarve antes de 68, despontava o turismo. Conheci antes de haver suecas. Depois melhor, mas viajava só em rapidinhas e era comprometido.
Em 68 também se podia já notar uma recessão à portuguesa.
Era ontem! Eram outros tempos!
Daniel

Teté disse...

Ah, os Porfírios, comprei muita roupa lá, que era moda jovem... e baratinha! A minha mãe e a minha avó é que não gostavam de lá ir (muita malta nova e consequente confusão) preferiam a Casa Africana e o Grandela (não era neste que havia aquelas escadas rolantes todas?).

E sim, essas memórias de namoros de adolescência, são sempre bons momentos a recordar. Nunca percebi é porque é que os portugueses sempre tiveram uma certa queda para suecas... Será por serem altas, loiras e, nessa época, certamente mais desinibidas??? :)))

Sim, boas férias antes da partida, que o resto de certeza que não teve graça nenhuma! Aprendizagem de vida, sim, certamente até muita...

Jinhos!

Carlos II disse...

Teté,

As suecas eram indiscutívelmente mais desinibidas. Só isso. Mas olha que aquela Elsa não o era menos. Ela queria estrangeiros, para dar o salto dali, daquele lugar.

Pascoalita disse...

Xiiiiiiii como eu me lembro com saudade dos Porfirios!!! Era uma loja única e a malta ficava de boca aberta com aqueles "trapos" ... lembro-me perfeitamente dumas calças de bombazine fininha, muito justas, em tom azulão que usei até se romperem ahahah

Pascoalita disse...

Pensando na guerra colonial e em tudo o que lhe estava inerente, mal consigo imaginar o que sentiam os jovens nessas circunstâncias, mas apesar de tudo acho que o maior calvário era vivido pelos pais.

Um beijo